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ENGOMA--CABULA-BEIRU,HISTÓRIA DO BRASIL
ENGOMA--CABULA-BEIRU,HISTÓRIA DO BRASIL

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                                   (A FAMOSA BAIANA TIÊTA-FOTO DOMINGOS SÉRGIO FREITAS SIVA)------------------------
 
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ENGOMADEIRA -CABULA-BEIRU....
                               
HISTÓRIAS DE RESISTÊNCIA AFRO BRASILEIRA
 

Engomadeira (Salvador) 


 
Quem vê Engomadeira hoje, povoada e urbanizada desordenadamente, não imagina que ali, até meados do século passado, existiam fazendas de coronéis e chácaras onde as pessoas cultivavam agricultura de subsistência e preservavam fontes e nascentes utilizadas nas tarefas domésticas, no lazer e nos ritos às divindades afro-brasileiras.
Contam seus moradores mais antigos que a ação feminina foi decisiva na formação do bairro. Foi justamente a atividade mais praticada pelas mulheres, famosas lavadeiras e engomadeiras das roupas dos quartéis das forças armadas, que rendeu ao lugar o nome de Engomadeira. Um destes testemunhos é o de Helenita Lima Ferreira, 61 anos e moradora do bairro há mais de 30, conhecida como D. Nita: “Eu ouvi falar nesta história, que a Engomadeira tem nome de Engomadeira por que tem muita lavadeira. (...) eu sou lavadeira e engomadeira profissional”. 
D.Nita emprestou também sua fibra e suor aos serviços domésticos nos conjuntos habitacionais construídos nas imediações do bairro. Situação que levou um grupo de mães a fundar, em 1985, uma das entidades mais antigas e representativas da comunidade, o Conselho de Moradores do Bairro da Engomadeira (Comobe), que tem à sua frente uma mulher negra, professora e mãe de três filhos, Antonieta da Conceição Souza Santos, a D. Antonieta, moradora do bairro há 32 anos: “Criamos a escolinha porque as mães iam trabalhar e não tinham com quem deixar os meninos”, explica.
Hoje, os filhos das engomadeiras e empregadas domésticas são professores, radialistas, universitários e ativistas sociais que estão à frente de muitas das organizações da comunidade. As pesquisas desenvolvidas por essa nova geração já sugerem uma nova explicação para o nome do bairro, que teria origem na palavra de origem bantu “ngoma”, que significa “tambor” no candomblé de Angola.
 

https://wikimapia.org/10268605/pt/Engomadeira

 
 

 
 
 
 
   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ENGOMADEIRA 

Quem vê Engomadeira hoje, povoada e urbanizada desordenadamente, não imagina que ali, até meados do século passado, existiam fazendas de coronéis e chácaras onde as pessoas cultivavam agricultura de subsistência e preservavam fontes e nascentes utilizadas nas tarefas domésticas, no lazer e nos ritos às divindades afro-brasileiras.
Contam seus moradores mais antigos que a ação feminina foi decisiva na formação do bairro. Foi justamente a atividade mais praticada pelas mulheres, famosas lavadeiras e engomadeiras das roupas dos quartéis das forças armadas, que rendeu ao lugar o nome de Engomadeira. Um destes testemunhos é o de Helenita Lima Ferreira, 61 anos e moradora do bairro há mais de 30, conhecida como D. Nita: “Eu ouvi falar nesta história, que a Engomadeira tem nome de Engomadeira por que tem muita lavadeira. (...) eu sou lavadeira e engomadeira profissional”. 
D.Nita emprestou também sua fibra e suor aos serviços domésticos nos conjuntos habitacionais construídos nas imediações do bairro. Situação que levou um grupo de mães a fundar, em 1985, uma das entidades mais antigas e representativas da comunidade, o Conselho de Moradores do Bairro da Engomadeira (Comobe), que tem à sua frente uma mulher negra, professora e mãe de três filhos, Antonieta da Conceição Souza Santos, a D. Antonieta, moradora do bairro há 32 anos: “Criamos a escolinha porque as mães iam trabalhar e não tinham com quem deixar os meninos”, explica.
Hoje, os filhos das engomadeiras e empregadas domésticas são professores, radialistas, universitários e ativistas sociais que estão à frente de muitas das organizações da comunidade. As pesquisas desenvolvidas por essa nova geração já sugerem uma nova explicação para o nome do bairro, que teria origem na palavra de origem bantu “ngoma”, que significa “tambor” no candomblé de Angola.

Fonte: Cultura no ponto/Fundação Gregório de Matos. V.1, Salvador: FGM, 2006

 

 

 
Área
MIOLO CENTRAL
 
Depoimentos
“Havia muitas nascentes. Cada fonte recebia o nome da pessoa que cuidava dela. Aí nós tínhamos a nascente de Nanã preservada pelo pessoal do Terreiro de Nanã, a de Seu Pompílio e a de Seu Peixoto. Todas acabaram. O pessoal não conservou. O rio que separa Engomadeira do Beiru (Tancredo Neves), que hoje é um esgoto, era limpo e as águas tranqüilas. Ainda temos um lajedo (queda d´água com pedras lapidadas pelo rio)”.
D. Antonieta, presidente do Comobe

“Quando nós viemos para cá não era assim. Pelo menos não tinha essa rua que tem aqui hoje, a rua era barro puro (...) Os moradores velhos, pelo menos, algumas pessoas respeitam”.
Pedro Gomes da Conceição, morador da Engomadeira há 24 anos

“Meu nome é João Adorno Araújo, tenho 73 anos e moro aqui há 35. Eu construí essa casa depois de muito tempo. Esse nome João do Porco é porque eu matava porco e vendia aí em frente. Quando eu cheguei não tinha carro direto para cá. Não tinha água, nem rede de esgoto (...) Hoje eu vendo ervas, pratos de barro, louça, moringa”.
João Adorno Araújo, comerciante local conhecido como Seu João do Porco

"À boca da noite eu me sentava na porta, cantando e batendo tambor e os meninos brincando por aí, eu me entretia até tarde da noite. Eu cantava, mas hoje em dia não dá mais por causa do derrame”.
Gervásio Rodrigues dos Santos, o famoso Seu Nem, de 86 anos, ex-bóia-fria, tocador de engoma e mestre do Samba de Chula

“Eu cantava músicas do tempo que morava no interior, em Amargosa, que tinha aquelas festanças e se brincava a noite toda! Ele (Seu Nem) aprendeu (... ) Esse asfalto tem só uns três anos. Era tudo lama isso aqui. Eu lavava muita roupa para fora. Depois não agüentei mais”.
Amália de Jesus Santos (a D. Amália) 81, ex-bóia-fria e lavadeira, mãe de 12 filhos e esposa de Seu Nem

Fonte: Cultura no ponto/Fundação Gregório de Matos. V.1, Salvador: FGM, 2006
 
Atrativos
CONSELHO DE MORADORES DO BAIRRO DA ENGOMADEIRA (COMOBE)
Uma das principais referências de mobilização da comunidade, o Conselho de Moradores de Engomadeira (Comobe) nasceu em 1985, dentro da Igreja Católica Ascensão do Senhor, na época do padre Maurício, que está atualmente na paróquia de São Gonçalo. O Comobe foi criado por um grupo de mães que perceberam a necessidade do desenvolvimento de trabalhos de assistência social voltados para a população local.

TERREIRO KAFUNJI ODÉ L´FUNJI 
O Kafunji Odé L´Funji, da nação Ketu, tem à frente o Pai Luís de Oxossi ou Pai Luís de Obaluaiê. Além da orientação espiritual, o terreiro realiza muitas festas abertas à comunidade. No mês de abril acontece festa para Oxóssi. No último domingo de agosto, é a vez da procissão em louvor a Obaluaiê e na terceira semana de setembro acontece a festa do Caboclo Serra Negra.

COOPERATIVA MÚLTIPLAS FONTES DE ENGOMADEIRA (COOFE)
Fundada há seis anos, a Cooperativa Múltiplas Fontes de Engomadeira (Coofe) é fruto da parceria de um grupo de mães do bairro com a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), campus do Cabula, através do projeto Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares. Quando seus 11 conselheiros e conselheiras ainda buscavam uma alternativa de negócio viável, capaz de gerar emprego e renda para suas famílias, não imaginavam que se tornariam um dos maiores vendedores de pães, doces e salgados da comunidade. E o melhor: já aceitam encomendas.

RÁDIO HITS MODULADA COMUNITÁRIA
A Rádio Hits tem um papel significativo na sua área de abrangência, que compreende o bairro de Engomadeira, a Estrada de Barreiras, o Conjunto Habitacional OPM II, o Recanto do Cabula e a Uneb, e atinge diversas camadas sociais.

TERREIRO VIVA DEUS FILHO
Localizado no fim de linha de Engomadeira, o Terreiro Viva Deus Filho, da nação Angola, tem à frente da casa Antonia Ferreira de Almeida, a Mãe Antônia. O terreiro tem um animado calendário de festas abertas para a comunidade durante todo o ano. Em junho, acontece a feijoada para Ogum e a festa dos Caboclos. No último domingo de agosto, o homenageado é Kicongo, o Velho. Em setembro, é a vez da festa dos Erês e, no primeiro domingo de dezembro, acontece a festa para Yemanjá.

CATÁLOGO CULTURAL

ARTEBAGAÇO ODEART
Coordenado por Janice Nicolin, Diego Nicolin e Benivalda Moraes, o grupo Artebagaço é composto por uma maioria de jovens negros que reside na Engomadeira, mas que, por falta de espaço, se reúne na Escola Estadual Roberto Santos (Cabula) e na Associação de Moradores da Estrada das Barreiras.
“Comunidade, por sua vez, não é o espaço utópico de trocas beatíficas, isenta de conflito e luta. É, antes, o lugar histórico possível em que a tradição se instala como uma dimensão maior que a do indivíduo singular, levando-o a reconhecer-se nela como algo diferente de si mesmo, como um grande outro que inclui tanto pedras, plantas, animais e homens, como a própria morte, com a qual se institui uma troca simbólica na forma de culto aos ancestrais”. 
Muniz Sodré
Arte & Bagaço nasce de uma compreensão crítica que tivemos do modo unilateral como a escola interpreta, esquadrinha, disseca o nosso modo de ser e de viver sociocomunitário comunal, como bagaços, mas ao longo dos tempos percebemos que a engrenagem escola, por se incumbir apenas de garantir a cópia do que propõem o livro didático e os mecanismos pedagógicos de controle do saber gerados pela maquina social moderna neocolonial urbano-industrial, não conseguia e não consegue entender o que dizíamos.
Este fato favoreceu-nos a percepção de que a escola não apenas nega, mas oculta, sim, oculta para não revelar sua incapacidade de ler os complexos códigos pluriculturais comunitários presentes no seu cotidiano, já que esta desenvolve apenas a visão unilateral dos eventos e não consegue, se quer, fazer esta pergunta a si mesma: como transcender as barreiras emergenciadas?
A metáfora Artebagaço é a justaposição que se diz de si mesmo retrucando, com um sentido satírico e irônico, o pensamento conceitual subjugador e oferecendo a “inversão carnavalesca” de Bakhtin (1995) pois o riso, o jogo de corpo, o olhar são metamórficas contradições da vida cotidiana, isto é arte, é o poder de expressar esta filosofia de vida.


ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA DEFESA E ATAQUE NOVA GERAÇÃO
A Associação de Capoeira Defesa e Ataque Nova Geração foi fundada em 15 de novembro do ano de 2000 pelo professor Rubem Gelson Miranda da Paz, mais conhecido como Mestre Azulão. Por cultivá-la desde criança, Mestre Azulão se dedica plenamente à capoeira com muito amor e prazer. Recentemente, criou a bandeira do grupo, com o escudo que é levado na camisa e um hino que traz mensagens de união e paz para todos os capoeiristas.

GRUPO DE CAPOEIRA ANGOLA CABULA (GCAC)
Os trabalhos do GCAC envolvem o ensino da prática da Capoeira Angola para crianças de comunidades carentes e a preservação da cultura dos antepassados aos jovens e crianças pelo Mestre Barba Branca, discípulo mais velho do Mestre João Pequeno de Pastinha. Atualmente, as aulas são dadas no Terreiro de São Roque (Beiru), na Escola Deputado Gersino Coelho (Narandiba) e no Comobe (Engomadeira).
Além da prática da Capoeira Angola - que envolve movimentos de corpo, toques de berimbau, confecção de instrumentos e ensino de cânticos antigos - são promovidas palestras e debates que visam envolver também os pais das crianças sobre temas da atualidade e da cultura negra.
O ensino da Capoeira Angola permite o resgate da auto-estima de crianças afro-descendentes em situação de vulnerabilidade social, através do reconhecimento da história de seu povo contada por seus antepassados, contribuindo assim para o combate à violência na periferia de Salvador. A área do Cabula, território remanescente de quilombo, detém um patrimônio vivo, uma potencialidade reproduzida nas suas diversas manifestações culturais, cujo trunfo principal é a preservação da cultura dos antepassados articulada em rede com associações de outros bairros e terreiros de Candomblé.

BLOCO AFRO ARCA DO AXÉ
Tel.: 8153-5527
Mantido pela Escola Comunitária Engenho dos Negros, o bloco afro Arca do Axé desenvolve atividades de percussão, dança afro, artesanato, produção de adereços, fantasias, máscaras, estética afro, informática, teatro, alfabetização de jovens e adultos, biblioteca e banco de informações nagô.

VÍDEO PRODUTORA DA ENGOMADEIRA (VIPE)
Nascida há três anos de uma oficina de vídeo promovida por alunos da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), campus do Cabula, a Vídeo Produtora de Engomadeira (Vipe) é um empreendimento de alguns alunos do grupo de teatro amador da Escola Comunitária Engenho dos Negros. Eles começaram filmando a peça que apresentavam, “No Brasil tudo é 10”, e hoje realizam serviços de filmagem em geral e criação de roteiros. Seus quatro integrantes são: Edlo Filho, Jaqueson Dias, Luís Eduardo Moreira e Roberto Moreira.

Fonte: Cultura no ponto/Fundação Gregório de Matos. V.1, Salvador: FGM, 2006
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Personagens
D. ANTONIETA 
Natural do município de Livramento de Nossa Senhora, a professora Antonieta da Conceição Souza Santos, 57 anos, já está na Engomadeira há 32: “Quando eu cheguei aqui, já casada, tinha 25 anos. Era totalmente diferente de hoje. A rua principal era uma viela com poucas casas, a maioria feita de barro. Não havia água encanada e poucas casas tinham luz.”
Dona Antonieta foi e ainda é uma das principais articuladoras do Grupo de Mães do bairro, entidade que fundou há 21 anos, o Conselho de Moradores do Bairro da Engomadeira, o Comobe, do qual é presidente pela terceira vez. A entidade, que nasceu na raça e na vontade quando a comunidade ocupou o terreno baldio ao lado do posto de saúde da Rua Direta da Engomadeira, é a vida desta senhora que co-educou e cuidou de boa parte dos jovens da comunidade, seus alunos na escolinha criada pela necessidade das mães que trabalhavam fora e não tinham com quem deixar seus filhos.
Além de professora, D. Antonieta é também artesã (faz bonecas de pano, anjinhos de bucha, caixas de presente, sacolas, cintos etc), ofício que herdou da mãe, D. Alice da Conceição Souza Santos, de 90 anos, que lhe ensinou desde criança, no interior, “a ir no mato buscar uma raiz para fazer enfeite”, explica. Com muito prazer, D. Antonieta passa tudo o que sabe para as mães e idosos da Engomadeira. “O que eu sei, eu quero passar aos outros. Se eu tivesse dinheiro, gastava todo nisso”.

SEU NEM E D. AMÁLIA 
Geovásio Rodrigues dos Santos, 86 anos, o Seu Nem, e Amália de Jesus Santos, 81, a D. Amália, ambos ex-bóias-frias e naturais de Ubaíra, estão casados há 60 anos. Mas, além da lição de amor e companheirismo, que gerou 12 filhos, e das plantas medicinais que têm no jardim para socorrer os vizinhos nos momentos de aperto, eles são famosos na comunidade pelo tambor de engoma e o samba de chula que Seu Nem toca há 25 anos na porta de casa. E ninguém melhor para falar de Seu Nem que D. Amália: “Toda a vida Nem foi tambozeiro. Aquilo ia para festa... Trabalhava a semana toda, mas quando era dia de sexta-feira e sábado corria para festa. Eu não tive muita soltura. Meu trabalho era de dia na roça e de noite tomava conta dos filhos. Mas às vezes eu ia...”.
Seu Nem conta que depois da reza e das ladainhas da Igreja, eles tomavam café e só depois começavam o samba de chula: “E não era só um tambor, não! Eram dois, três, quatro e tinha pandeiro também, cada um tirava uma chula. Na hora de sambar, dá aquele sapateado e depois volta pro lugar”.
Quando chegaram em Engomadeira, em 1959, a pedido dos filhos que vieram para a capital, Seu Nem passou a tocar na porta de casa. D. Amália explica que “a festa dele (Seu Nem) era aqui. Juntava mais os filhos e brincava tudo na porta. Era bonita aquela roda de gente batendo tambor. Todo mundo cantando e brincando ali na maior alegria”.
D. Amália fala dessas festas no passado porque hoje em dia Seu Nem já não canta mais. É que há uns seis anos ele teve um princípio de derrame: “Quando eu vou cantar me dá um negócio e eu perco a voz”, explica o mestre. Mesmo assim, durante a conversa, ele pegou o tambor de engoma feito por Seu Pitutinho, carpinteiro e artesão, e puxou uma chula:

SEU PITUTINHO 
Marceneiro, carpinteiro, pedreiro, artesão, reformador, dono de bar e preparador de efusões de cachaça. Estas são algumas das profissões de seu Elísio Dias, 64 anos, morador da Engomadeira há aproximadamente 47 e mais conhecido como Seu Pitutinho. O apelido ele recebeu ainda criança no município de Irará, onde nasceu: “Me disseram que quando eu nasci era miudinho e bonitinho e me botaram o nome de Pitutinho”, brinca.
Dentre as suas obras mais admiradas pela comunidade estão o tambor de engoma vendido a Seu Nem, o cavaquinho que achou no lixo e restaurou, e a escultura de preto velho que pôs no bar onde trabalha. A desenvoltura do mestre carpinteiro e preparador de cachaças chega a espantar Elisabete Dias, uma de suas cinco filhas: “Os meninos aqui do bairro já gostam de parar aqui para conversar com ele e olhe que jovem não gosta de conversar com idoso... Ele tem uma coisa para conversa...”.
Seu Pitutinho tem dez filhos, todos com D. Diva dos Santos Dias, e a habilidade para as atividades manuais parece ser uma herança de família. Os ofícios com a madeira ele conta que aprendeu ainda garoto com o pai: “Meu pai era carpinteiro, eu sempre trabalhava com ele e aprendi; o resto é a curiosidade do homem. Eu sei é que no fim das contas até cachimbo de barro eu sei fazer”. Hoje, um de seus filhos, “é ourives de mão cheia”, comenta orgulhoso.
Mas nem tudo foram flores em sua vida: há dez anos, Seu Pitutinho se envolveu de maneira exagerada com o álcool, mas conseguiu se recuperar através do grupo Alcoólicos Anônimos, que funciona na Igreja do Beiru-Tancredo Neves. Apesar disso, continua fazendo sua “importação”: mistura de ervas com cachaça que vende parcimoniosamente no seu bar: “O engraçado é que eu trabalho com cachaça, mas falo contra a cachaça. Se o sujeito toma pouquinho é até um remédio, mas se toma muito acaba fazendo mal”.
De maneira muito divertida, Seu Pitutinho explica a função de cada efusão: “Erva-doce é bom para gases, Bom para tudo dizem que é bom para potência, Cabuim é para não tomar cachaça pura, Jatobá a gente usa lá no interior com limão para a gripe, Cravo é bom para botar gases também, Catuaba é bom para fortalecer o sangue, Milome é bom para a natureza (dor de barriga) e Catuaba Selvagem é fortificante”.
Seu Pitutinho não sabia ler nem escrever: “Naquele tempo meu negócio era trabalhar e fazer menino”. Hoje, na 3a série do primário, ele corre atrás do prejuízo: “Educação não é a leitura, educação vem de berço. Por aí está cheio de médico, de engenheiro que não sabe tratar as pessoas. Hoje tem concurso e passa quem tem a leitura, mas não tem a mente, que é o que desenvolve a profissão”.

MESTRE BARBA BRANCA 
Discípulo mais velho do Mestre João Pequeno de Pastinha, Gilberto Reis F. Santos Filho, o Mestre Barba Branca, do Grupo de Capoeira Angola Cabula (GCAC), tem 35 dos seus 50 anos dedicados a este esporte-arte de matriz africana, misto de dança e luta, que começou a praticar ainda adolescente no bairro da Liberdade, com o Mestre Traíra.
Aos 18, Gilberto decidiu passar a treinar com o Mestre João Pequeno, ainda no Pelourinho. Oito anos mais tarde, passou a buscar seus próprios caminhos na capoeira Angola. Tornou-se mestre um ano depois, o que aconteceu de maneira muito engraçada: “João Pequeno não queria me dar o diploma de Mestre. Ele queria que eu fosse o seu contra-mestre e só depois da sua morte, conforme uma das mais antigas tradições da capoeira, é que eu passaria a mestre. Foi Mestre Bobó do Dique que o convenceu e ameaçou: - João Pequeno, se você não der logo o diploma de Mestre a Gilberto, quem vai dar sou eu”.
Para Barba Branca, a capoeira nunca foi um meio de vida. Mecânico industrial aposentado da Petrobrás, nem mesmo o trabalho foi desculpa para que não levasse a sério o esporte que lhe proporcionou “socialização, boas amizades e andar pelos caminhos certos. Não que eu fosse um cara errado, mas me ajudou a me doutrinar”, explica. Atualmente, ele dá aulas no Terreiro de São Roque (Beirú), da nação Angola; na Escola Deputado Gersino Coelho (Narandiba) e na sede do Conselho de Moradores do Bairro de Engomadeira (Comobe). Aliás, a relação de Mestre Barba Branca com o Candomblé é antiga: ele já deu aula por 10 anos no Ilê Axé Opô Afonjá, tem um grande respeito e admiração por Mãe Stela e D. Detinha, mas se considera apenas um simpatizante da religião: “Não sou feito nem nada, sou simpatizante e estudioso. Eles têm uma consideração muito grande por mim porque no Candomblé, se você é puro de coração, eles sempre te respeitam”, diz o mestre.

Fonte: Cultura no ponto/Fundação Gregório de Matos. V.1, Salvador: FGM, 2006
 
     
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PONTOS DE CULTURA
 

 
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IBRAM-SITE (PONTO DE MEMÓRIA DO BEIRU)
 
 
https://www.museus.gov.br/noticias/ponto-de-memoria-do-beiru-recebe-oficina/
 
CONTATO ( "roberto dos santos" ,) A BAIANA TIÊTA
 
AÇÕES SOCIAIS - Cursos de manicure, artesanato, percussão e 
dança.
CURIOSIDADES - A Associação Cultural Comunitária e 
Carnavalesca Mundo Negro publicou o livro "Beiru" (2007), que conta a história 
do bairro e de seus personagens históricos.
HISTÓRICO - A Associação Cultural Comunitária e Carnavalesca 
Mundo Negro foi fundada numa época em que os moradores do Beiru lutavam para 
manter o nome do bairro, que tinha sido substituído por Tancredo Neves. O nome 
Beiru homenageia Preto Beiru, um nigeriano que chegou à região, como escravo, 
nos idos de 1820 e herdou as terras da família Silva Garcia. Beiru é o único 
bairro de Salvador que tem o nome de um africano em Salvador.
PRESIDENTE - Roberto dos Santos Freitas
 
 
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QUILOMBO NOS MARES E CABULA

 

Os "Quilombos" de Nossa Senhora dos Mares e Cabula, também localizados nos arredores da cidade do Salvador foram de grande importância e alto grau de periculosidade.

   Deles tomou conhecimento o então governador e capitão-general da Bahia o Conde DA PONTE, o qual de imediato, providenciou a sua extinção, para isso mandando vir à sua presença, no dia 29 de março de 1807, o capitão-mor das entradas e assaltos do termo da  cidade do Salvador, SEVERINO DA SILVA LESSA, logo no dia seguinte 30 de março de1807, requereo 80 homens da tropa de linha, e bem municiados, e com os Officiaes do matto e Cabos da policia que lhe parecerão capazes", cercou várias "cazas e arraiaes" na distância de  duas legoas desta cidade, "para os sítios que se denominam Nossa Senhora dos Mares e Cabula".

Foram aprisionados pela expedição em lide, 78 pessoas, "huns escravos, outros forros e dois dos principais cabeças",havendo apenas "'alguma rezistencia e pequenos

ferimentos" .

Os pretos escravos encontrados nos referidos ”quilombos" foram remetidos ao arsenal, onde foram empregados nas "reas obras" e as mulheres foram enviadas "para as cadêas da cidade": enquanto se não  formalizava hum summario e processo, o qual ficou a cargo do desembargador ouvidor geral do crime para devassa.

Sobre o ataque e extinção dos "quilombos" de Nossa Senhora dos Mares e Cabula, o governador conde DA PONTE, em 7 de abril de 1807, escreveu ao então Ministro da Marinha e Ultramar, visconde de ANADIA uma carta nos seguintes termos: "lImo. e Exmo. Senhor. Pode suceder que conste a V.Excia. que eu procedera a huma prisão de grande numero de pessôas, e ignorando-se o motivo verdadeiro deste procedimento, excita-se algum cuidado ou pelo menor desejar V. Excia. saber com certeza este facto, que não deixaria de fazer lembrado o do ano de 1798, governando esta capitania D. FERNADO JOSÉ DE PORTUGAL essa consideração he bastasse para que eu participe a V. Excia. que sendo repetidas e muito frequentes as deserções de escravos do poder de seus senhores, em cujo serviço se ocupavão ha annos, a que neste Paiz chamão ladinos, entrei na curiosidade (importantes nestes estabelecimentos) de saber que destino seguião , e sem grande dificuldade conheci que nos suburbios desta capital e dentro do matto de que toda ella he cercada, erão innumeraveis os ajuntamentos desta qualidade de gente, os quaes dirigidos por mãos de industriozos importadores, alliciavão os creoulos, os vadios, os superticiozos, os roubadores, os criminozos e os  adoentados, e com huma liberdade absoluta, dansas vestuarios caprichozos, remedios fingidos, benção eorações phantasticas e fanaticas, folgavão, comião e se regalavão com a mais escandaloza offensa de todos os

direitos, leis, ordens e publica quietação".

"Mandei chamar no dia 29 de março deste anno, com o disfarçe e a cauteIla necessaria, o Capitão-mór das Entradas e Assaltos do Termo desta Cidade SEVERINO DA SILVA LESSA e com firmeza lhe protestei que me ficava desde aduela hora responsavel pela dispersão de taes quilombos, para qual deligencia lhe prestaria todo o auxilio que me requeresse não pense V. Excia. que elle deixasse de tremer ao ouvir esta minha resolução, nada mais me respondeo, que partia a executa-Ia mais que ficava perdido. No dia 30 me requereo 80 homens da Tropa de linha e bem muníciados, e com os officiaes do matto e cabos da policia que lhe parecerão capazes, se  cercarão varias destas cazas e arraiaes na distancia de duas legoas desta Cidade para os sitios que se denominão Nossa Senhora dos Mares e Cabula, e com a fortuna de aprehenderem 78 pessoas destes agregados, huns escravos, outros forros, e dois dos principais cabeças: houve alguma rezistencia e alguns ferimentos, mas nada que mereça maior atenção". "Os pretos achados nestes ajuntamentos, mandei-os para o Arsenal emprega-los nas reaes obras e as mulheres para as cadêas da cidade, enquanto se não formalizava hum summario e processo destes factos, e a vista delles se conhesse delicto dos cabeças e seus socias para lhes imporem as pennas que parecerem mais conformes com as Reaes ordens, encarregando desta devassa ao Dezembargador Ouvidor Geral do Crime, que a ella está procedendo" -

Muitas causas me moverão a esta deliberação alem da expressada; havia poucos tempos que no Rio das Contas, Comarca d' Ilheos, no Sitio do Oitizeiro, se tinha por ordem minha destruido hum grande Quilombo, até já com roças e plantações, cuja devassa foi encarregada o Ouvidor respectivo para conhecimento do chefe que foi promunciado, e existem outros de consideração que espero arrazar, nascendo destas doutrinas e convidarem­se escravos dos engenhos a se armarem Coroneis e Tenentes- Coroneis com festejos cantarias e uniformes o que ouço contar aos proprios senhores com indiferença, e merece bem a penha de eu tomar câutelozas medidas, e com prudencia dispersalos. visto que tan1a indulgenca ;e lhes tolerou caminharem: porém se V. Excia, bem se informar, os escravo, fazem já muita differença na obediencia devida aos seus senhores, e os forros guardão muito maior respeito aos brancos do que os guardavão, e para bem se fazer hum justo conceito do qual seja necessario a mais efficaz vigilancia neste artigo, recomendando muito a V. Excia a particular atenção sobre o alistamento geral dos indivíduos desta colonia...

Bahia e abril 7 de 1807(ass) CONDE DA PONTE."

 

(Documento n. 29.815, do Arquivo de Marinha e

Ultramar de Lisboa).

 

“Transcrito da Revista Brasileira de Geografia, outubro­“.



dezembro de 1962, do artigo "Os Quilombos Baianos" de Pedro Tomás Pedreira.”“.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Rufino_do_Beiru


 

Manuel Rufino do Beiru

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 
 
  Este artigo ou seção precisa ser wikificado (desde dezembro de 2009).
Por favor ajude a formatar este artigo de acordo com as diretrizes estabelecidas no livro de estilo.
 

Manuel Rufino de SouzaRufino do Beiru ou Rufino Bom do Pó era um famoso babalorixá do Candomblé de SalvadorBahia. Tinha seu terreiro no bairro do Beiru que mudou de nome paraTancredo Neves. O nome Beiru, de origem iorubá, refere-se ao escravo africano Gbeiru que morou na localidade no século XIX

  •  a que se refere o título também chamado de Zorra era preparado com raízesfolhas, e muitos ingredientes próprios para feitiço, a receita só era conhecida pelos mais velhos, não ensinavam para ninguém, muitos babalorixás ficaram famosos por serem Bom no Pó ou Bom de Pó.

Manoel Rufino era filho de santo de Miguel Arcanjo de Xangô que era da nação (Angola Tapuiá - extinta por falta de anotações dos antigos, passando para Angola Musucongo ou Angola Muxigongo), Massanganga de Indú Duxó. Manuel Rufino de Souza, foi o fundador do Asé do Beiru, Ile Asé Tomin Bocun; sua digina era Omin da Samba e, o nome de sua Osún era Oyá Omigilange que, era o nome de Osún Opará. Ele escondia sua idade mas, acreditamos ter mais de 85 anos quando veio a falecer em 1973[carece de fontes], por complicações de Diabettes Mellitus, tendo inclusive sofrido amputações. Primeiro, do dedo do pé direito, em seguida, do pé esquerdo, finalmente, da perna. Deixou 5 filhos carnais, sendo 2 homens - Roque e Antônio -, e 3 mulheres; entretanto, deixou vários filhos de santo dentre eles: Lídio da Boa Viagem(BA), Walter ti Oxossí(RJ e tantos outros que, respeitosamente, preservam seus ensinamentos diz Guaranho do Bara.

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Manuel Rufino de souza dijina Urudasamba uroko Yaminkilanje inciado no candonblé (angola de caboclo) por um homen chamado Miguel Arcanjo também conhecido como Massaganga de Cariolé do Santo amuraxó dizem que morreu com mais de 80 anos de idade faleceu no ano de 1983 sua fama era de um homen temido por seu poder no feitiço ou no Pó como era conhecido Rufino Bom no Pó, sua Casa de santo (Ilé axe tomin bokun) que possuia uma imensa extensão de terra que hoje e um grande bairro chamado Tancredo Neves a rua onde era seu terreiro hoje possui seu nome Rua Manuel rufino e dirigida hoje em dia por seu filho carnal Manuel Rufino que zela pelo santo de seu pai, Esta é a unica imagem que se tem de seu Rufino do Beiru (Rufino do Beru(ominquilangi).jpg)

Notícia publicada no Jornal do Beiru

Publicada no primeiro número do jornal, lançado em novembro de 2002

A história do Beiru se confunde com a história dos cultos afro, terreiros e, principalmente, com a história do seu primeiro morador – Miguel Arcanjo. Beiru foi um negro escrevizado, comprado pela família Hélio Silva Garcia. Ele herdou as terras antes pertencentes aos seus donos, hoje equivalente a área ocupada pelo Beiru, que gira em torno de 1 milhão de metros quadrados de área.

Essas terras, após a morte de Beiru, voltaram à posse da mesma família de origem, já que “Preto Beiru” como era chamado, não tinha herdeiros libertos. Os Hélio Silva Garcia, em gratidão a Beiru, resolveram homenagear-lhe dando o nome Beiru à sua fazenda, como consta na escritura da fazenda datada do final do século XIX.

As terras foram então vendidas a Miguel Arcanjo, primeiro residente da área. Anos mais tarde ele viria a fundar um terreiro de candomblé no local onde situava-se a casa grande da Fazenda Beiru. A venda das terras datam de 1910. Foi assim que nasceu em 1912 a Nação de Amburaxó, na área conhecida como Jaqueira da Cebolinha, que atualmente dá nome ao Largo do Anjo-mau.

A Nação de Amburaxó, fundada por Miguel Arcanjo, que também era o pai-de-santo, se diferia dos demais terreiros por ter uma doutrina mais aberta. “Era mais fácil de aprender”, diz o filho-de-santo Eldon Araújo Laje, conhecido como Jijio, do Terreiro Insumbo Meian (Vila São Roque), localizado no Largo do Anjo-mau. Essa Nação se diferenciava das demais, como a Nação de Angola, a Nação Quêto, da Nação Jêji e da Nação Banto, entre outras coisas porque todos os seus cultos eram realizados do lado de fora, aos pés das árvores sagradas, que até hoje existem no espaço que circunda o posto médico e a 11a. Delegacia.

É dessa linha do candomblé que Miguel Arcanjo vai formar seus discípulos e que mais tarde disputarão as terras do bairro: Miguel Rufino, Olga Santos (morena) e Pedro “duas cabeças” que criaram seus terreiros independentes.

Depois de formados seus discípulos, já sabedores da Doutrina amburaxó – pouco difundida, Miguel arcanjo Morre, em 1941, aos 81 anos de idade, vítima de um câncer de próstata. A sua morte se deu na casa de seus filhos-de-santo Cazuza e Morena. Deixou como Herdeiras legítimas de suas terras, Caetana Angélica de Souza e Guilhermina Angélica de Souza. Como herdeiro do cargo de pai-de-santo ficou o seu filho-de-santo Manoel Jacinto.

Um pouco antes de falecer, Miguel Arcanjo adquiriu alguns pedaços de terra, entre esses ao Senhor José Evangelista de Souza (seu Cazuza). Esta área ia até o atual fim de linha do Tancredo Neves. Seu Cazuza se casaria, posteriormente, com uma irmã-de-santo Olga Santos (Morena). Após a morte de “Seu Cazuza”, seus filhos tentaram impedir que se cumprisse uma promessa feita por ele a Obaluaiê, que certa feita o salvou de uma picada de cobra e também era o guia de Morena. Na área prometida ao santo para a fundação do seu terreiro. Foi neste espaço que morena, agora mãe de santo, fundou o terreiro Insumbo Meian (encontro de Obaluaiê com as águas doces) na Baixa do Cabula, hoje situado, próximo ao Largo do Anjo-mau, cujo filho-de-santo Eldon, responsável por uma pesquisa para formação de um acervo com a história do Bairro, revitaliza a cultura negra. Após a morte de Mãe-Morena, o cargo passou para Nair Oliveira de Souza (Oju Oyá), filha de seu Cazuza, e logo depois foi empossada Jacira Oliveira de Souza Brito (Yatomin), primeira mãe-de-santo eleita como a sua sucessora ainda em vida, lançando um processo de escolha totalmente novo e mais democrático, evitando disputas.

Entre os anos de 1938 e 1944, Miguel Arcanjo de Souza moveu uma ação de despejo contra Manoel Cyriaco, que não vinha pagando seus honorários das terras arrendadas. O caso só foi resolvido anos mais tarde com a expedição de mandato de reintegração de posse das terras. Após tantas disputas, em 1979, o então governador do Estado da Bahia, Antônio Carlos Magalhãesresolveu desapropriar todos os herdeiros das terras do Beiru, tirando a posse de todas as terras em detrimento da instalação de um projeto de urbanização da área. Foram entregues, simbolicamente, cerca de 600 títulos de doação de terreno referentes ao projeto, o que mereceu a manchete “Moradores do Beiru receberam terrenos em clima de festa”, veiculado no Correio da Bahiam em 18 de Dezembro de 1980. Cerca de seis anos depois o então Governador da Bahia, João Durval, implantou o projeto que beneficiaria cerca de 80 mil moradores o projeto Beiru, que visava a urbanização, viabilizando a melhoria das moradias, do acesso, infra-estrutura, saneamento, o que daria ao Tancredo Neves sua atual configuração.

Quem foi Preto Beiru?

Para alguns era um feitor encarregado de zelar pelas terras de uma fazenda onde eram as nossas casas, impedindo que aqueles mais pobres fizessem suas rocinhas ou casinhas. Dizem também que é nome feio em nagô. O tempo se encarregou de apagar da memória da comunidade o porque ter o nome de beiru.[1]

Mas o fato é que hoje o bairro, representado pelo nome de um ex-presidente, diga-se de passagem branco, ainda sofre.. Atualmente o Tancredo Neves conta com uma população de cerca de 180 mil habitantes, e já tem um desmembramento muito famoso, que é o Arenoso. Hoje conta com um comercio próprio, rede transporte, pavimentação, serviço de esgotamento, delegacias, linhas de ônibus.

Mas nem sempre foi assim. Demorou-se muito para que o bairro ganhasse sua atual configuração e processo de urbanização. Depois de muita luta é que foram feitas algumas melhorias, inclusive acabando com patrimônios que poderiam ter validade como patrimônio histórico, e oferecer recursos para estudos dos atuais moradores, como aconteceu com O terreiro de Miguel Arcanjo, que foi completamente destruído, excetuando-se as árvores sagradas dos cultos amburaxós, para a construção de um posto médico no local.

  • Matéria veiculada pela Tribuna da Bahia em 29.05.85
  • Fontes consultadas para a materia:
  • A Tarde -
  • Correio da Bahia -
  • GAP – Grupo Alerta Pernambués – Carta Aberta à Comunidade Religiosa. Salvador, 02.10.2001.
  • Tribuna da Bahia
  • Carta Aberta a Comunidade Religiosa, 02.10.2001, GAP – Grupo Alerta Pernambués
  • ACERVOS – Arquivo HIstórico Municipal do Salvador:
  • Jornais
  • Miguel Arcanjo de Souza - Autuação N.1041 – 1938-1944. Livro 1.
  • Acervo. Jornal A Tarde: 08.02.1985; 03.02,2001 – Jornal Tribuna da Bahia: 29.04.1985 – Jornal *Correio da Bahia: 18.12.1980; 01.09.1986; 17.10.1986; 10.01.1987
  • A Tarde, 08/10/2001
  • Correio da Bahia, 08/10/2001

Fundação Gregório de Mattos VOCÊ CONHECE A MINHA HISTÓRIA? Eu gostaria de me apresentar, para tomar-me conhecido de todos. Chamo-me Beiru. Vocês sabiam que eu morei aqui? Faz muito tempo, lá pelos anos de 1820. Fui seqüestrado na minha terra natal sem direito a escolha. Depois de um tempo fui comprado por um membro da família dos Garcia D´Ávila e trazido para a fazenda Campo Seco. Aqui eu trabalhei muito e procurei ganhar a confiança dos meus "donos" e com o passar do tempo eu pude até ganhar terras deles, terras estas que possibilitou me juntar com meus irmãos de África. Eu fui um homem bom, tão bom que deixei saudades em todos aqueles que viveram junto a mim (irmãos e colonizadores), ao ponto de trocarem o nome da fazenda a qual eu vivia (Campo Seco), colocando o meu nome BEIRU. Ah! Como fiquei grato em ver o meu nome sendo lembrado por todos.

Agora vejam só vocês, andam dizendo que eu fui um capataz, que eu açoitava os meus próprios irmãos, dizem até que o meu nome é feio; vê se pode uma coisa desta? Agora que eu não posso mais me defender falam isso de mim; tiraram meu nome do bairro. Que estupidez fizeram com a historia; mas sempre foi assim com os negros, todas as vezes que homenageiam um negro, desfaz-se a homenagem; é assim com ruas, monumentos, escolas etc. mas desta vez estou amparado com a sanção da Lei 10.639, que obriga a inclusão de disciplinas de Historia e Cultura Africana e Afro-brasileira nos currículos escolares. As terras que foram minhas e que tinham meu nome, voltam a serem chamadas com o nome de origem BEIRU. Fico muito grato por meu nome se tomar perpétuo nas mentes de todo aqueles que venham tomar conhecimento da minha verdadeira história, como diz Marcus Garvey "Um homem sem história é como uma árvore sem raiz".

Texto fornecido pelo Bábálorisá José Augusto Ti Sangó Elufiran. Neto de Massanga de Cariolé e filho de Oxuguemin (dona rosinha) filha de Rufino, também conhecido como Rufino Bom no pó ou Rufino do Beiru.

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